A manhã não chega ao fim. Os segundos se arrastam. Vejo as nuvens mudarem de forma cada vez mais devagar, quase imperceptíveis. Não há vento, não há sombra, apenas meia dúzia de árvores secas, com galhos tortuosos. Vejo um urubu ao longe, fazendo sua ronda matinal até pousar no telhado de uma casa abandonada a procura da próxima refeição.
Ao seguir seu olhar, percebo o que não deveria ver pessoas doentes apoiando-se umas nas outras, procurando um lugar para se protegerem do sol. Não há nenhum vestígio de que existira água ali, nem em qualquer outro lugar num raio de 1000 km.
Existe um hospital, única estrutura totalmente intocada, extremamente branca, de tal forma que chega a refletir a luz solar, quase cegando quem o olha diretamente. Porém, ninguém o vê.
O que posso fazer? Meus gritos de ajuda são tampados pelos gritos de dor, minha bandeira vermelha não tremula quase morta.
Minha casa: limpa, aconchegante, sem um único rastro de poeira, com água em abundância e remédios, comida fresca, cama macia e roupas novas; se torna tão inútil e deprimente.
Preciso sair daqui, mas não há portas, não há janelas, apenas vejo ninguém me vê.
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